Passaram seis meses desde que fui diagnosticada com doença de Crohn.
Já há muitos anos que padeço desta doença sem o saber, e agora que estou a ser medicada, consigo fazer uma avaliação muito positiva do tratamento.
Foi em 2010 que a minha saúde chegou a um ponto tão crítico que o meu médico de família achou que eu teria uma qualquer doença do foro cancerígeno.
O meu cabelo caía imenso, estava muito magra (47 Kg), sentia palpitações fortes no coração, diarreia, tonturas e não tinha força para nada. Tinha febre todas as semanas, e regra geral, passava o fim de semana no sofá, doente. Estava apática e deprimida. As pessoas em geral diziam-me que eu estava muito branquinha, e acho que ninguém teve uma real noção de quão doente eu me sentia. Pela primeira vez na vida tive medo de morrer.
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Nesta fase devia ter uns 47 ou 48 Kg. Estava bastante debilitada e isso notava-se especialmente nos tamanhos da roupa: uns jeans 34 ficavam-me folgados. |
Fiz tantos exames... Cintigrafias, ecocardiogramas, Holter, electrocardiogramas, ecografias abdominais, ecografias à tiroide, Raios-x, TAC's, e um monte de análises. A única certeza era que eu sofria de uma anemia ferropénica grave, faltava era saber o motivo.
Demorou a encontrar o caminho certo, visto que eu não sentia dores abdominais. Um dos primeiros TAC's revelou uma inflamação numa zona do intestino, mas por qualquer motivo, o meu hematologista da época não deu o devido interesse pois estava convencido que devia ser algo no meu aparelho genital, mesmo quando eu insistia que ia tudo normal nesse campo.
Até então, estava só a tomar sulfato ferroso para equilibrar os meus níveis, mas assim que fazíamos a experiência de parar a toma, os valores de ferro e ferritina iam logo por ali abaixo...
Sinceramente, não sei como foram precisos dois anos para seguir pela direcção certa: a tal inflamação no intestino. Fiz mais uma TAC que revelou o óbvio: uma extensa inflamação no final do intestino delgado. Os exames seguintes foram mais invasivos, - e eu prefiro não falar muito neles, - mas permitiram chegar a um diagnóstico:
"A minha amiga tem Doença de Crohn".
Agora estava explicado o motivo da anemia e de todos os outros sintomas. O meu sangue estava tão doente que até o coração tinha dificuldade em bombear de forma afinada, e daí as arritmias e palpitações. A inflamação não só não permitia a correcta e total absorção do ferro, como ainda proporcionava perdas por esse mesmo motivo. É como uma ferida com um palmo de comprimento que não sara.
Agora estou a tomar anti-inflamatórios específicos e imunossupressores.
Os imunossupressores baixam a minha imunidade e pretendem diminuir a resposta ofensiva do meu organismo ao seu próprio órgão. Tenho de ter alguns cuidados, mas a verdade é que mesmo tomando esta medicação que me assustou um pouco ao início, eu sinto-me muito melhor e com mais saúde.
Consegui aumentar uns quilinhos, e tenho agora uns orgulhosos 53 Kg. A roupa assenta-me melhor, sinto-me mais bonita. Até me disseram que ando mais coradinha!
Sinto que tenho mais energia e nunca mais tive febre (nem me tenho constipado tanto).
A anemia também está controlada e não preciso de tomar mais suplementos de ferro.
Felizmente (e isto é o melhor de tudo), posso comer de tudo, pois não há nenhum alimento que me provoque crises ou intolerância.
Apesar de a zona afectada poder ser detectada por palpação abdominal, eu não tenho dores nenhumas (isto surpreendeu o especialista de doenças do intestino que me acompanha agora). Também sinto que o meu sistema digestivo funciona melhor, especialmente à saída :)
Apesar de me sentir bem agora, senti um nó no estômago quando tive de responder num questionário
Considera-se uma pessoa saudável? Como é que eu posso responder a isto quando me sinto bem mas sei que tenho uma doença crónica e autoimune...? Sem a medicação volto irremediavelmente ao mesmo quadro de anteriormente. Também não sei o que o futuro me espera, porque podem surgir reviravoltas imprevisíveis no meu organismo. Esta doença é tão diferente de pessoa para pessoa, que não podemos fazer comparações nem obter estimativas a longo prazo ao nível da qualidade de vida.
A ideia é tentar levar uma vida normal sem pensar muito nisto. Um dia de cada vez. E está a ir bem.